08/02/2011

KARATÊ NA BAHIA

A INTRODUÇÃO DO KARATÊ NA BAHIA

ANTES DE OISHI (Eisuke Oishi)

Era um dia lindo, o sol estava brilhando como um pedaço de ouro reluzente e no porto da cidade de Tóquio, muitos japoneses se despediam dos familiares, pois iriam viajar para o Brasil; alguns eram engenheiros, outros médicos (quase todos mestres em alguma arte marcial). Todos vinham para o Brasil com intenção de fazer fortuna e fama, nas suas profissões. Porém o destino reservou para muitos um futuro brilhante, um futuro de fama e fortuna, não na profissão que eles escolheram, mas como mestres de judô e karatê. Dentre estes japoneses que embarcaram no navio “América”, estava o mestre Koji Takamatsu, Engenheiro Agrônomo formado pela Universidade de Tóquio, natural da cidade de Kakogawa, província de Hyogo, 5º Dan de karatê estilo Wado-Ryu e 2º Dan de judô, vinha para o Brasil para trabalhar na agricultura. Em outro navio, o Brasil Maru, partia do Japão em direção ao Brasil, o mestre Masahiro Saito, Engenheiro Civil, formado pela Universidade de Waseda, natural de Tóquio, 2º Dan de judô. Os navios partiam em direção ao Brasil, trazendo muitos japoneses que deixaram os seus corações no Japão. Eles estavam indo na direção de um país desconhecido, sem nenhuma certeza do que poderia lhes acontecer, somente tinham a esperança no coração e a certeza de viver em uma pátria distante. Estávamos no ano de 1956 e o navio deslizava sobre as águas do mar, trazendo um povo para uma nação desconhecida, chamada Brasil. Um gigante que precisava da tecnologia dos japoneses, principalmente da engenharia. Depois de longos dias de viagem, finalmente o navio Brasil Maru aportou em terras brasileiras para reabastecimento, justamente no Estado da Bahia.
Na Bahia as artes marciais já eram conhecidas, tínhamos a capoeira, o judô, o jiu-jitsu e a luta livre. Os praticantes de judô da Academia Spartan Gym, souberam da chegada do navio Brasil Maru e resolverem ir ao porto procurar algum mestre de judô que tivesse interesse em ficar na Bahia. O Dr. Geraldo Blandi Mota juntamente com os Srs. Anis Cheams, Moacir de Souza Cintra, Costa e Antonio Oliveira Monteiro, todos faixas-pretas em judô, foram até o navio e conseguiram autorização para entrar e conversar com os japoneses. Eles entraram em contato com o mestre Masahiro Saito e pediram para ele ficar na Bahia lecionando judô. O mestre Saito disse que tinha se comprometido com um pessoal de São Paulo e teria que ir para lá, pois dera a sua palavra e não poderia deixar de cumpri-la.
O navio seguiu viagem e aportou em Santos. Para o mestre Saito, São Paulo parecia que era o Japão. “Tinha muito japonês lá. Parecia que eu estava no Japão. Então resolvi escrever uma carta para Dr. Geraldo Mota pedindo que me arranjasse serviço.” – Comenta o mestre Masahiro Saito.
O Dr. Geraldo Mota arranjou um emprego para o mestre Saito em uma empresa de implementos rurais. À noite ele ensinava judô na Academia Spartan Gym. Algum tempo, nos fins de semana, o mestre Saito fazia apresentações de judô, no Iate Clube, no Bahiano de Tênis etc.
Em 1958, o mestre Saito deixou o emprego e foi trabalhar na Fazenda Santa Bárbara, de propriedade do Sr. José Sisnando, no distrito de Santa Bárbara, município de Feira de Santana. O Sr. Sisnando gostou do trabalho do mestre Saito e pediu a ele que escrevesse para os conterrâneos que estavam em São Paulo pedindo para virem trabalhar na fazenda Santa Bárbara. “Então, resolvi escrever para alguns amigos, dentre eles, o Koji” – Comenta o mestre Masahiro Saito.
O mestre Saito enviou algumas cartas para o mestre Koji Takamatsu que estava em São Paulo e para alguns amigos, convidando-os para virem trabalhar na Bahia. Vieram os mestres Koji Takamatsu (karatê), o Shibata (aikido) e um mestre de kendô. O mestre Koji Takamatsu veio para a Bahia em janeiro de 1958. O mestre Koji Takamatsu, atualmente é 9º Dan de karatê Wado-Ryu, mora em São Paulo e possui uma academia no bairro da Lapa, na Rua Luiz Martins, 127. O mestre Koji Takamatsu ensinava judô e defesa pessoal no clube Feira Tennis Clube, em Feira de Santana e fazia demonstrações de karatê nos finais de semana na Fazenda Santa Bárbara, tendo sido convidado para fazer uma demonstração de karatê no Iate Clube da Bahia, na festa da PETROBRÁS, em 1958.
“Ao chegar no Iate Clube da Bahia, assinei o meu nome e escrevi um agradecimento, escrito na língua japonesa, no livro que pessoas honrosas e importantes assinam”.- Comenta o mestre Koji Takamatsu.
Certa feita, o Sr. José Sisnando convidou o Dr. Ângelo Decânio, “Saci”, “Acordeon” e “Ari”, todos colegas das aulas de capoeira para irem à fazenda assistir uma demonstração de judô e karatê. “Foi à coisa mais linda que já vi em minha vida – comenta o Dr. Ângelo Decânio – parecia que o Koji Takamatsu flutuava no ar. Ele parecia uma borboleta. Foi a demonstração mais linda que já vi em minha vida”. Paralelamente à chegada do mestre Koji Takamatsu, alguns japoneses que trabalhavam e moravam no Hospital Otávio Mangabeira praticavam o estilo Shorin-Ryu, no pátio do hospital. Eles trabalhavam com horta e criação de galinhas e no final da tarde treinavam judô e karatê Shorin-Ryu.
Nesta época, o professor José Monteiro, tinha dez anos de idade e começou a treinar com eles. Esses japoneses tiveram uma briga com um boxeador e depois desse episódio mudaram para Mata de São João.
Devido à seca, o projeto do Sr. Sisnando não deu certo. Então o Dr. Geraldo Blandi Mota contratou o mestre Koji Takamatsu para ensinar defesa pessoal na Academia Spartan Gym. A defesa pessoal tinha alguns golpes de karatê. Os alunos do mestre Koji Takamatsu eram seguranças de pessoas importantes.
O mestre Koji Takamatsu ensinou os fundamentos de karatê e o primeiro kata para alguns alunos do Spartan Gym. Entre eles, Mario Conceição de Souza, Mestre Masahiro Saito. Ao mestre Saito ele até o 3º kata, do estilo Wado-Ryu. O mestre Koji Takamatsu retornou para São Paulo em 1960 e o mestre Masahiro Saito ficou em Salvador.
Os alunos de judô pediram ao mestre Masahiro Saito para ensinar o karatê a eles. O mestre
Saito começou a ensinar o karatê para uma turma composta de cinco alunos, dentre eles, estava o Múcio Magalhães. “Ensinei alguns fundamentos de karatê ao Múcio Magalhães” comenta o Mestre Masahiro Saito.
Algum tempo depois Masahiro Saito fundou um centro esportivo, só para universitários, na Escola de Engenharia, no Bairro da Federação. Nesse clube, o Dr. Ângelo Decânio era um dos alunos. A turma era composta por alunos que cursavam engenharia, medicina, direito etc.
“Dois alunos meus, Humberto Carlos Noronha e Jayme Nunes Sarmento, conseguiram um emprego para mim na PETROBRAS”. - Diz o mestre Masahiro Saito – “Aí então deixei de ensinar judô na Academia do Dr. Geraldo Mota e fui trabalhar na refinaria em Mataripe”.
Quando o mestre Masahiro Saito foi contratado pela PETROBRAS, o Dr. Geraldo Blandi Mota foi a São Paulo e contratou um outro japonês, chamado Juniti Onoka, que era 2º DAN de judô, para ministrar aulas no Spartan Gym. Juniti estava no Brasil há um ano e meio e falava um pouco da língua portuguesa. O irmão mais novo de Juniti chamado Yoichiro Onoka, veio para o Brasil, para o estado de São Paulo, em 1960 e era faixa preta de karatê. Juniti então escreveu para ele pedindo para ele vir dar aulas de karatê na Bahia. O Yoichiro veio e ficou apenas três meses ensinando karatê na Bahia. O Yoichiro só teve alguns poucos alunos e preferiu voltar para São Paulo.
Na Academia Spartan Gym tinha-se aulas de Judô, karatê, luta livre, halterofilismo. Era uma academia completa. O Dr. Geraldo Blandi Mota era apaixonado por esporte, por arte marcial.
Atualmente a Academia Spartan Gym passou a ser chamada de Spartan Judô Clube.
Depois que Yoichiro Onoka retornou para São Paulo, O Múcio Magalhães assumiu as aulas de karatê na Academia Spartan Gym.
“Foi o Múcio Magalhães que manteve o karatê no Spartan Gym depois que Yoichiro foi embora e quando Oishi começou a ensinar no Ginásio Acrópole, ele passou os seus alunos para Oishi” comenta o Dr. Ângelo Decânio.
Em 1961, o professor de defesa pessoal, Mário Conceição, começou a comentar com os seus alunos, no Ginásio Acrópole sobre o karatê. Logo após o término da aula de defesa pessoal, ele falava sobre o karatê, pois aprendera alguns fundamentos e o primeiro kata com o mestre Koji Takamatsu. O professor Mário dizia para os alunos que o karatê não era o seu forte, porque exigia muita flexibilidade. O seu forte era jiu-jitsu e defesa pessoal. Depois de algum tempo ele resolveu ensinar o primeiro kata para os seus alunos, após a aula de defesa pessoal. Ele sempre falava que o karatê era um esporte perigoso, que visava os pontos vitais do ser humano. Estas aulas levavam em média trinta minutos.
A sua pequena turma gostou e começou a treinar karatê. Muitas vezes o professor Mário pedia ao Sr. Walter Andrade, proprietário do Ginásio Acrópole, para contratar um japonês para ministrar aulas de karatê.
Denílson Caribé, devido a uma cirurgia feita no menisco, em decorrência do futebol, pois jogava na seleção da PETROBRAS, foi para o Acrópole fazer fisioterapia, porque lá era o único local onde se fazia a reabilitação. Os jogadores do Vitória, do Bahia, todos iam para lá para fazer a reabilitação.
Segundo o Sr. Walter Andrade: “Depois de três meses de treinamento, o Denílson viu um movimento defronte a sala de musculação e me perguntou”:
-Sr. Walter, eu posso treinar defesa pessoal ou alguma coisa parecida?
Denílson. - respondi - Se você pratica futebol que é muito violento, a defesa pessoal é moleza para você. - Ele riu e foi procurar o Mário Conceição.
Naquele momento ele conheceu o karatê e começou a treinar mostrando a aptidão que ele tinha para esse esporte. Antonio Amorim, Francisco Fortes, Álvaro Conceição e depois Carlos Alberto Costa foram os primeiros alunos de Mário Conceição. - Finaliza o Sr. Walter Andrade.

DEPOIS DE OISHI

Eisuki Oishi veio para o Brasil porque queria conhecer o mundo e aprender outras línguas.
Ele veio da cidade de Kyoto, no navio Argentina Maru e chegou em São Paulo em meados de 1961.
Depois de seis meses morando em São Paulo, ele encontrou o amigo Yoichiro Onoka que lhe falou sobre a beleza da Bahia, das praias e do povo. Oishi ficou encantado e veio conhecer a Bahia. Ao chegar aqui, no final de 1961, com dezenove anos de idade, foi morar na casa do mestre Masahiro Saito, que na época trabalhava na PETROBRAS, na refinaria de Mataripe. Oishi foi levado por Kazuo Yochida, mestre de judô que veio para a Bahia por intermédio do mestre Masahiro Saito, à casa do Dr. Ângelo Decânio para que este arranjasse um emprego para ele, como técnico em laboratório. O sonho de Oishi era estudar medicina e trabalhar como técnico em anatomia patológica ou histologia.
Oishi foi apresentado ao Dr. Ângelo Decânio em sua residência por Yochida. O Dr. Ângelo Decânio sugeriu então, de primeira, que ele aproveitasse o karatê como fonte de renda para ganhar dinheiro para estudar medicina. Ele não quis. Não queria ensinar karatê, porque achava que era muito violento e o brasileiro não era bom. Então preferiu trabalhar como técnico no Hospital Aristides Maltez, no gabinete de Anatomia Patológica Dr. Lúcio Gomes Filho. Alguns meses depois, ele procurou o Dr. Ângelo Decânio e pediu para reconsiderar, porque o dinheiro que ele ganhava no hospital era muito pouco e ele precisava ganhar um pouco mais.
Depois do pedido de reconsideração, o Dr. Ângelo Decânio, médico cirurgião, muito conhecido na Bahia, amante das artes marciais, resolveu apresentar o Eisuki Oishi ao Sr. Walter Andrade, proprietário do Ginásio Acrópole.
“De repente, vejo o Dr. Ângelo subindo as escadas com um japonês que aparentava dezoito a dezenove anos” – Comenta o Sr. Walter Andrade.
- Você não gostaria de contratá-lo para ensinar o karatê aqui? – Perguntou o Dr. Decânio.
- Sim. – Respondeu o Sr. Walter Andrade.
- O Oishi pretende morar na Bahia e fazer o vestibular para medicina. Com o dinheiro das aulas que ele der aqui, dá para comprar os livros e ele segue nos estudos.
O acordo foi feito e o Sr. Walter, para ajudar ao Oishi, resolveu que sessenta por cento do valor das mensalidades dos alunos de karatê seria do japonês.
Foi feito então uma reunião no gabinete do Sr. Fauzi Abdala, presidente da Federação Bahiana de Pugilismo, onde compareceram Walter Andrade, Dr. Ângelo Decânio, Denílson Caribé,
Manoel Quadros, Fauzi Abdala, Kazuo Yochida e Eisuki Oishi. Fizeram um pacto de honra de que o judô e o karatê iam permanecer unidos sem competir pelo mercado de atletas e o Oishi ficaria ensinando com o Sr. Walter Andrade, no Acrópole e o Yochida ficaria com o judô.
Foi colocado anúncio no jornal A TARDE e apareceram alguns alunos e o grupo foi aumentando. O professor Mário Conceição passou a sua turma para o Oishi. A turma que Oishi ensinava era composta a princípio de poucos alunos, dentre eles, Denilson Caribé, Carlos Alberto Costa e Lázaro Gagliano. Os alunos ficaram espantados com a agilidade e velocidade do Professor Oishi, e com as variações dos golpes, isso deu um novo ânimo aos alunos para continuar com o aprendizado. Em alguns dias a notícia correu pela cidade e o Ginásio Acrópole se encheu de alunos.
De repente a euforia acabou, pois o Professor Oishi deixou de dar aulas. Denílson Caribé, preocupado com as constantes faltas de Oishi, foi procurá-lo em um pensionato, na Vitória, onde Oishi morava. Oishi tinha pegado uma gripe e estava muito doente. Denílson Caribé ao vê-lo dirigiu-se a ele e vendo-o tremendo de frio, em um dia de muito calor, colocou a mão direita na testa de Oishi e constatou que ele estava com febre, pois havia dias que ele não se alimentava direito e não tinha a quem recorrer porque não falava bem a língua portuguesa.
Denílson Caribé pagou as contas de Oishi no pensionato. Pegou a bagagem dele e levou-o para a sua residência sem consultar os seus pais. Quando chegou em sua casa, deu a notícia a D. Valda Caribé de Castro, sua mãe. Explicou os motivos que o levaram a tomar tal atitude e, quando o pai dele, o Sr. Lourival Vieira de Castro, chegou para o jantar, viu o japonês em casa e pensou que era apenas uma visita rápida, mas logo ficou sabendo do ocorrido e deu o maior apoio ao filho. Denílson Caribé quando levou o Oishi para a sua casa, deu-lhe moradia e cuidados médicos.
Quando o Oishi se restabeleceu, Denílson Caribé pediu para que este lhe ensinasse o karatê e em troca, ele o ajudaria a melhorar o seu conhecimento da língua portuguesa.
“Eu já estava no Brasil há quase dois anos e falava razoavelmente a língua portuguesa. A mãe de Denilson me ensinou a falar corretamente” comenta Eisuke Oishi.
“Realmente fui eu quem ajudou Eisuke Oishi a falar o português mais corretamente, porque Denilson não tinha tempo” diz D. Valda Caribé.
Em 1962, quando as aulas de karate, no Ginásio Acrópole, se normalizaram, a notícia espalhou pela cidade e os alunos de karatê da Academia Spartan Gym se transferiram para o Ginásio Acrópole.
Um desses alunos foi o professor Ivo Rangel. Em 1964 o professor Ivo Rangel abandonou o karatê e passou a treinar judô, com o mestre Kazuo Yochida.
Denílson Caribé, depois de algum tempo, ficou tão amigo de Oishi que este passou a morar com ele em um apartamento no bairro da Vitória. Naquele tempo, o Denílson era solteiro e ele deu tudo dentro do possível ao japonês, porque ele sempre foi uma pessoa boa de coração. O trabalho foi aumentando, aos poucos foram chegando mais atletas como: Lázaro Gagliano, Ramiro Gandleman, Vilobaldo Moraes Pedreira e muitos outros.
O Professor Oishi praticava o estilo Wado-Ryu. Ele era muito rápido, aguerrido, chutava bem, e gostava muito de Jiu-Kumitê (luta, combate). Detentor de uma técnica apurada combinava bem golpes de mãos e de pernas, era veloz e arrojado. Em suas aulas predominava o kumitê, o que levava seus alunos a serem bem fortes nessas técnicas. Assim sendo, os “Fundamentos e Kata” eram deixados um pouco de lado. Dadas às limitações do próprio Oishi que, no Japão, era faixa branca, pois no Japão, segundo Oishi, só existiam as faixas: branca e preta. Porém, em Salvador, na condição de instrutor e para impor respeito, ele usava a faixa-preta.
Desde o princípio, alguns alunos se destacaram nas aulas de Oishi, sendo que, dentre eles, Denílson Caribé era o que mais chamava a atenção por sua perseverança, espírito aguerrido e liderança. Aos poucos, essas qualidades o levaram à posição de braço direito de Oishi. Havia ainda outros praticantes de valor, tais como: Carlos Alberto Costa, Renato Duarte, Lázaro Gagliano, Renato de Jesus Pereira e Cláudio de Carvalho Mascarenhas.
Depois de dois anos de treinamentos, sentindo a necessidade de maior aprimoramento técnico e intercâmbio, em uma conversa Oishi revelou a Denílson Caribé que já tinha ensinado tudo que sabia. Então eles decidiram viajar para São Paulo, para buscar novos conhecimentos.
Na época, Denílson Caribé trabalhava na PETROBRAS, pediu uma folga e viajou para São Paulo com Oishi, pagando toda a despesa do seu próprio bolso. Isso foi em Janeiro de 1964. Ao chegarem em São Paulo, foram recebidos pelo Professor Akira Tanigushi (5º DAN, na época), praticante do estilo WADO-RYU, e dono da academia Mei-Bukan, onde passaram uma semana praticando e observando novas técnicas. Quando iam retornar para a Bahia, o mestre Akira Tanigushi, submeteu os dois ao exame de faixa, Denílson Caribé passou de faixa branca para faixa verde e Oishi foi confirmado na faixa preta; simplesmente ele legalizou a faixa que já vinha usando há muito tempo. De São Paulo eles trouxeram o estilo Goju-Ryu.
Após esse contato, a Bahia foi convidada, em 1965, para o Terceiro Torneio Interestadual de Karatê, em São Paulo, organizado pelo Professor Akira Tanigushi. O professor Ivo Rangel estava treinando judô e, como era bom lutador de karatê, o Eisuke Oishi pediu ao Lázaro Gagliano que fosse convidá-lo para participar do torneio de karatê, em São Paulo. A equipe baiana composta por Lázaro Gagliano, Carlos Alberto Costa, Renato de Jesus Pereira, Ivo Rangel e Renato Duarte Filho, todos faixa verde, além, naturalmente, de Denílson Caribé e Oishi. A Bahia sagrou-se campeã desse torneio histórico, voltando coberta de glória, trazendo novo incentivo para os alunos existentes e atraindo novos adeptos. Aquela vitória, entretanto, foi considerada fácil e trouxe a seguinte dúvida, tanto para Oishi quanto para Denílson Caribé: “Será que nós somos os melhores ou eles não estão se empenhando para treinar?”
“O estilo Goju-Ryu, na época, era muito fraco e a turma gostava de kumitê” – comenta o mestre Oishi – chegamos ao máximo que podíamos naquele estilo e descobrimos que tinha um grupo, bastante evoluído, que praticava o estilo Shotokan, no Rio de janeiro: era o grupo de Tanaka.
Devido a essa dúvida, eles procuraram o mestre Kazuo Yoshida (o mais destacado mestre de judô do Norte-Nordeste), um dos responsáveis pelo desenvolvimento do karatê na Bahia. Foram relatados a ele os fatos a respeito da competição, as dúvidas com relação à fragilidade do karatê que encontraram nas academias que visitaram em São Paulo, e outras coisas mais. Com um sorriso, o Mestre Kazuo Yoshida ouviu tudo atentamente e depois foi até a escrivaninha, escreveu um bilhete, em japonês, e olhando para Denílson Caribé, com um sorriso, entregou o bilhete.
Denílson Caribé guardou o bilhete.Em 1966, Oishi e Denílson Caribé viajaram para o Rio de Janeiro, mais uma vez Denílson Caribé pagando as despesas, à procura do mestre Yasutaka Tanaka, no bairro de Botafogo, em sua academia Kobukan. Nesse mesmo dia de chegada, Denílson Caribé e Oishi treinaram durante quatro horas e, diante do que viram, chegaram à conclusão de que o que sabiam era nada mais que superficial e primitivo, que ainda precisavam aprender muito.
No segundo dia, ocorreu um pequeno incidente quando treinavam jiu-kumitê (luta): sem intenção Oishi não controlou o golpe e acertou o Professor Inoki, este ficou por alguns segundos desacordado. Isso provocou uma reação de solidariedade entre seus colegas, Tanaka, Lirton Monassa, e dois alunos mais graduados. Oishi foi duramente repreendido, na língua japonesa, por não ter controlado o golpe.
No dia seguinte, não sentindo mais clima para treinar com Tanaka, Oishi viajou para São Paulo e deixou Denílson Caribé sozinho no Rio de Janeiro. Nos treinos, Denílson Caribé enfrentou uma verdadeira guerra, pois todos queriam vingar o acontecido com Inoki. Para Denílson Caribé essa vingança foi muito boa, pois ele aprendeu e se aperfeiçoou ainda mais no jiu-kumitê.
De volta à Bahia, Oishi e Denílson Caribé repassaram as novas técnicas que aprenderam com os professores Tanaka, Lirton, Inoki e Uriu.
Como resultado dessas novas experiências, foi iniciada uma nova fase do karatê na Bahia, com a troca do estilo Wado-Ryu para o SHOTOKAN e além de Denílson Caribé, Ivo Rangel, Lázaro Gagliano, Carlos Alberto Costa e Vilobaldo Moraes, também fizeram viagens periódicas ao Rio de Janeiro, para adquirir novos conhecimentos. Penosas e dispendiosas viagens eram realizadas em grupos de dois ou três, ou até individualmente, pelos alunos. Na época, poucos ainda estudantes, outros funcionários de algumas empresas, tinham dificuldades em conseguir dinheiro para as passagens, alimentação e hospedagem, não sendo raro às vezes em que dormiam no chão, com o quimono servindo de travesseiro, em academias de São Paulo e do Rio de Janeiro.
Denílson Caribé e Oishi procuraram o presidente da FBP – Federação Bahiana de Pugilismo, Sr. Fauzi Abdala João, para legalizar o Karatê como esporte amador, perante a CBP – Confederação Brasileira de Pugilismo, que controlava a prática de alguns esportes, de acordo com as Leis Desportivas em vigor.
“Eles foram me procurar para legalizar o karatê”.– Comentou o Sr. Fauzi Abdala.
No dia da audiência, Denílson Caribé compareceu acompanhado de Oishi e do Mestre Yoshida, momento em que foram informados a respeito das normas da CBP/FBP para a organização e funcionamento dentro da legalidade como esporte amador. O Sr. Fauzi Abdala João teve participação na formação das regras e procedimentos para a implantação e consolidação da arte do karatê na Bahia.
Em março de 1967, Oishi resolve deixar a Bahia. Ele procurou os dirigentes da NIHON KARATÊ KIOKAY no Brasil e pediu para que eles designassem alguém para assumir o karatê na Bahia. Os dirigentes da NIHON KARATÊ KIOKAY, designaram Denílson Caribé, que na condição de aluno mais graduado, ficou no encargo de coordenar uma comissão para assumir o comando e a responsabilidade pelo ensino do karatê na Bahia. A comissão era composta pelos alunos mais graduados à época: Denílson Caribé, Vilobaldo Moraes Pedreira e Carlos Alberto Costa. Essa comissão teve validada sua atuação através de documentos da NIHON KARATÊ KIOKAY, Associação Japonesa de Karatê para o estilo SHOTOKAN, e assinado por seu representante, no Brasil, o Professor Yasutaka Tanaka.
“Após deixar a Bahia, viajei para o Paraguai, Argentina, Chile, Bolívia, Peru, Equador e Panamá.
Do Panamá fui para o Japão, depois Portugal e Espanha. Gosto de viajar e conhecer o mundo” – Finaliza o mestre Eisuki Oishi.
Com a viagem de Oishi, a NIHON KARATÊ KIOKAY enviava periodicamente um japonês para supervisionar o karatê na Bahia. As visitas periódicas dos mestres de karatê do Rio de Janeiro terminaram em 1968, quando Denílson Caribé conseguiu junto ao Professor Tanaka, a vinda em definitivo do Professor Uriu, 4º DAN na época, para ministrar aulas na Bahia e aprimorar as técnicas dos alunos. Na época Uriu era representante da Associação de Karatê do Japão e aluno do grande mestre Nakayama. Sadamu Uriu era sócio da Academia Shidokan, juntamente com o professor Sohaku Bastos (baiano de nascimento e radicado no Rio de janeiro). O professor Sohaku foi um dos instrutores de Denílson Caribé no Rio de Janeiro.
Quando Uriu voltou para o Rio de Janeiro em 1970, Denílson Caribé trouxe para a Bahia o professor YOSHIZO MACHIDA, que viveu alguns anos aqui na Bahia.

 Eisuke Oishi